Lula visitou Santa Maria em março
Foto: Charles Guerra (Arquivo Diário)
Para aliados, uma injustiça. Para adversários, a certeza de que a impunidade no país está chegando ao fim. O julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do habeas corpus em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedia para não ser preso no caso tríplex, iniciado na tarde de quarta e encerrado na madrugada do dia seguinte, ganhou repercussão ao ser negado. Ao dar aval à execução da pena após condenação em segunda instância, o STF abriu caminho para a prisão do líder petista, que foi determinada no final da tarde desta quinta-feira, pelo juiz federal Sergio Moro.
Moro dá ordem de prisão a Lula, que tem até as 17h desta sexta para se entregar
No campo político, prevalecem as divergências entre os partidos. Para a presidente do PT, Helen Cabral, o julgamento do STF "reafirmou a finalização do golpe" iniciado, segundo os petistas, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O deputado federal Paulo Pimenta, líder da bancada do PT na Câmara, criticou o STF e, principalmente, a determinação de Moro para que Lula se apresente hoje até as 17h.
REPERCUSSÃO LOCAL
Diário ouviu políticos, empresário e especialistas sobre a decisão do STF. Os depoimentos ocorreram antes da determinação da prisão de Lula, exceto o de Pimenta:
"Em primeiro lugar, o placar de 6 a 5 mostra o tamanho da divergência sobre o tema. O voto do decano Celso de Mello me representa, por ser ele o ministro mais experiente e um defensor inarredável da Constituição. O ambiente radicalizado do país e a pressão sobre o STF contribuíram. Os ministros criaram uma jurisprudência grave do ponto de vista institucional. O resultado por si só já responde, é absolutamente controverso."
Valdeci Oliveira, deputado estadual do PT
Ato pela prisão de Lula reúne santa-marienses no Centro
"A gente continua reafirmando que a decisão do STF é a finalização do golpe que começou com a retirada da Dilma. A gente fica impressionado, porque os juízes são completamente parciais. E a gente também sentiu, na caravana do Lula. o ódio contra o PT. Ou eles prendem, matam ou não tem eleição. Mas nós reiteramos que o Lula é nosso pré-candidato e vamos usar todos os meios legais para garantir a candidatura dele."
Hélen Cabral, presidente municipal do PT
"A notícia de que o juiz Sérgio Moro deu prazo até amanhã (hoje) para que o Lula se apresente em Curitiba é extremamente grave e se constitui em enorme violência constitucional contra a mais importante liderança atual do país. O juiz Moro, na busca de holofote, afronta o estado democrático na sua sanha enlouquecida de perseguição ao presidente Lula. Não reconhecemos, não aceitamos e não vamos permitir que isso seja naturalizado."
Paulo Pimenta, deputado federal e líder da bancada do PT na Câmara
Foto: Charles Guerra (Arquivo Diário)
"Esperávamos que fosse um placar maior. Se o Brasil fosse um país sério, a decisão seria por unanimidade, e não falo isso em relação ao Lula, mas também a todos os políticos que tenham a mesma postura que ele teve em relação ao dinheiro público. A prisão é inevitável e não entendo a insistência do PT para ele concorrer, mesmo não tendo ficha limpa. O PT, aliás, todos os partidos, têm que fazer uma reflexão."
Magali Marques da Rocha, presidente municipal do MDB
Durante julgamento de Lula, militantes assam coxinhas em Santa Maria
"Eu esperava mais votos contra, não o placar de 6 a 5, não achava que fosse tão apertado. Quando ele perde de 3 a 0 na segunda instância, não esperava uma posição tão light. Acho que o Lula vai preso, mas vai ficar meia-dúzia de dias. Quanto ao PT, eles irão fazer de tudo para que o Lula não seja preso, e isso dá medo. A gente nunca discutiu dentro do partido, mas eu tenho medo. Espero que as coisas andem como têm de andar."
Maria de Lourdes Stieler, presidente municipal do PSDB
"O sentimento do empresariado e das pessoas com quem eu convivo é de que o momento é de mudanças. Estamos cansados de crimes do colarinho branco, do desvio de recursos e até de grandes grupos empresariais que nunca sofrem uma punição, pois sempre tem aquela possibilidade de se protelar com recursos. A partir de agora, o Brasil passa por um momento novo, passa a ter uma punição exemplar."
Ademir José da Costa, presidente do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas)
"Analisando a Constituição, no que se refere à presunção da inocência, alguém só pode ser considerado culpado após o trânsito em julgado da sentença. Concordo com o voto do ministro Celso de Mello, que foi o mais fundamentado juridicamente. Mas, com certeza, o STF voltará a tratar desse assunto, há uma série de Adins (ações diretas de inconstitucionalidade) tramitando e isso vai envolver de novo essa discussão."
Valéria Ribas, coordenadora substituta da pós-graduação em Direito da UFSM
Como foi a passagem da caravana de Lula por Santa Maria
"O quadro permanece absolutamente indefinido. Pelo menos por ora, sai um protagonista da cena eleitoral, o Lula, sem dúvida era uma referência, e a saída dele altera o quadro e aumenta as indefinições. Os petistas sabem que dificilmente ele será efetivado candidato. Então, como tratar acordos, fazer composições com alguém que não se sabe se vai ser candidato? Hoje, o Lula é ficha suja e a probabilidade desse registro ser impugnado é enorme."
Reginaldo Perez, professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSM
CENÁRIOS
Para a professora Valéria Ribas, coordenadora substituta da Pós-Graduação em Direito da UFSM, a decisão do STF vai contra o direito de o réu só ser preso após esgotados todos os recursos de defesa.
- Mais que um princípio, é um direito - afirma Valéria, prevendo que o tema será retomado na Corte.
Comissão que investiga obra da Câmara ouve mais dois depoimentos
Para o professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSM Reginaldo Perez, o cenário político é de incerteza. Segundo ele, Lula sai do cenário eleitoral e isso provocará mudanças no quadro da sucessão presidencial.
- Os petistas sabem que dificilmente Lula será candidato. Hoje, ele é ficha suja e a probabilidade do registro dele ser impugnado é grande - avalia.